Apnéia do Sono  

  
  • Pessoas com apneia do sono frequentemente ficam muito sonolentas durante o dia, roncam alto e ficam ofegantes ou têm episódios de asfixia, interrupções na respiração e despertares súbitos com engasgos.
  • Embora o diagnóstico de apneia do sono seja feito, em parte, com base na avaliação médica dos sintomas, os médicos costumam usar a polissonografia para confirmar o diagnóstico e determinar a gravidade.
  • Pressão positiva contínua nas vias aéreas, aparelhos orais desenvolvidos por dentistas e, às vezes, cirurgia, podem ser usados para tratar a apneia do sono.
Existem três tipos de apneia do sono:
  • Apneia obstrutiva do sono
  • Apneia central do sono
  • Apneia mista obstrutiva e central do sono
Apneia obstrutiva do sono
A apneia obstrutiva do sono, o tipo mais comum de apneia do sono, é causada pelo fechamento repetido da garganta ou das vias aéreas superiores durante o sono. As vias aéreas superiores incluem a passagem da boca e narinas para a garganta, descendo para a traqueia, e estas estruturas podem mudar de posição enquanto a pessoa respira.
Esse tipo de apneia afeta cerca de 2 a 9% das pessoas nos Estados Unidos. A apneia obstrutiva do sono é mais comum em pessoas obesas.
A apneia obstrutiva do sono ocorre quando a respiração é interrompida repetidamente durante o sono por períodos de mais de 10 segundos. As pessoas têm de cinco a trinta episódios de respiração interrompida por hora, ou mais.
A obesidade, possivelmente em combinação com o envelhecimento e outros fatores, leva a um estreitamento das vias aéreas superiores. O uso excessivo de álcool e uso de sedativos piora a apneia obstrutiva do sono. Ter uma garganta estreita, pescoço grosso e cabeça redonda, características que tendem a ocorrer em algumas famílias, aumenta o risco de apneia do sono. Níveis baixos de hormônio tireoidiano (hipotireoidismo) ou crescimento excessivo e anormal, devido à produção excessiva de hormônio do crescimento (acromegalia), podem contribuir para a apneia obstrutiva do sono. Às vezes, um acidente vascular cerebral pode causar apneia obstrutiva do sono.
 
Apneia obstrutiva do sono em crianças
Em crianças, hipertrofia de amígdalas ou adenoides, alguns quadros dentários (como uma sobremordida grave), obesidade e algumas deficiências congênitas (como um maxilar inferior anormalmente pequeno) podem causar apneia obstrutiva do sono. As alergias sazonais que causam congestão nasal significativa podem piorar a apneia do sono.
Quase todas as crianças afetadas roncam. Outros sintomas podem incluir sono, sono agitado e sudorese noturna. Algumas crianças fazem xixi na cama. Os sintomas diurnos podem incluir respiração bucal, cefaleia matinal e problemas de concentração. Alguns problemas de aprendizado e comportamentais (como hiperatividade, impulsividade e agressividade) são muitas vezes sintomas comuns de apneia obstrutiva do sono grave em crianças. As crianças também podem apresentar atrasos de crescimento. A sonolência diurna excessiva é menos comum em crianças do que em adultos com apneia obstrutiva do sono.

Apneia central do sono
A apneia central do sono, um tipo muito mais raro de apneia do sono, é causada por um problema com o controle da respiração na parte do cérebro chamada tronco cerebral. Normalmente, o tronco cerebral é muito sensível a variações no nível de dióxido de carbono arterial (um sub-produto das reações químicas normais do corpo). Quando os níveis de dióxido de carbono estão elevados, o tronco cerebral sinaliza aos músculos respiratórios para respirar mais profunda e rapidamente para remover o dióxido de carbono através da expiração, e vice-versa. Na apneia central do sono, o tronco cerebral é menos sensível às mudanças no nível de dióxido de carbono. Como consequência, as pessoas que têm apneia central do sono respiram menos profundamente e de forma mais lenta do que o normal.
Opioides usados para dor e diversas outras substâncias podem causar apneia central do sono. Estar em altas altitudes também pode causar apneia central do sono. A apneia central do sono pode ocorrer em pessoas com insuficiência cardíaca. Tumor cerebral é uma causa muito rara. Ao contrário de apneia obstrutiva do sono, a apneia central do sono não está associada à obesidade.
Em uma forma de apneia central do sono, chamada síndrome de Ondine, que geralmente ocorre em recém-nascidos, as pessoas podem respirar de forma inadequada ou até mesmo não respirar, exceto quando estão completamente acordadas. A síndrome de Ondine pode ser fatal.

Apneia mista do sono
A apneia mista do sono, o terceiro tipo, é uma combinação de fatores centrais e obstrutivos que ocorrem no mesmo episódio de apneia do sono. Os episódios de apneia do sono mista, na maioria das vezes, começam como apneias obstrutivas e são tratados como apneias obstrutivas.
Sintomas da apneia do sono
Geralmente os sintomas durante o sono são notados primeiramente por alguém que dorme na mesma cama, um companheiro de quarto ou por alguém que more na mesma casa. Em todos os tipos de apneia do sono, a respiração pode tornar-se anormalmente lenta e superficial, ou pode parar subitamente (às vezes por até 1 minuto) e, em seguida, voltar ao normal.
Em todos os tipos de apneia do sono, os distúrbios do sono podem resultar em sonolência diurna, fadiga, irritabilidade, dores de cabeça pela manhã, lentidão de pensamento e dificuldade de concentração. Como os níveis de oxigênio no sangue podem diminuir significativamente, pode haver o desenvolvimento de fibrilação atrial e a pressão arterial pode aumentar.
Na apneia obstrutiva do sono, o sintoma mais comum é o ronco, mas a maioria das pessoas que ronca não tem apneia do sono. Na apneia obstrutiva do sono, o ronco tende a ser prejudicial, com episódios de falta de ar ou asfixia, pausas na respiração e despertares súbitos com engasgos. A pessoa pode despertar com asfixia e assustada.
Pela manhã, as pessoas muitas vezes não sabem que acordaram muitas vezes durante a noite. Algumas pessoas acordam com dor de garganta ou boca seca. Quando a apneia obstrutiva do sono é grave, repetidos ataques de engasgo relacionados ao sono e roncos ocorrem à noite e sonolência ou cochilos involuntários ocorrem durante o dia.
As pessoas podem ter dificuldade em permanecer dormindo.
Em pessoas que vivem sozinhas, a sonolência diurna pode ser o sintoma mais visível. Por fim, a sonolência diurna interfere no trabalho e reduz a qualidade de vida. Por exemplo, a pessoa pode adormecer enquanto assiste à televisão, enquanto participa de uma reunião ou, com a sonolência extrema, mesmo quando para em um sinal vermelho ao dirigir. A memória pode ser prejudicada, o desejo sexual pode ser reduzido e as relações interpessoais sofrem, pois a pessoa não é capaz de participar ativamente das relações devido à sonolência e irritabilidade.
Na apneia obstrutiva do sono, o risco de acidente vascular cerebral, ataque cardíaco, fibrilação atrial (ritmo cardíaco irregular, anormal) e hipertensão arterial aumenta. Se homens de meia-idade tiverem episódios de apneia obstrutiva do sono com frequência superior a cerca de 30 episódios por hora, o risco de morte prematura aumenta.
 
Na apneia central do sono, o ronco não é tão proeminente. No entanto, o ritmo da respiração é irregular e interrompido por pausas. A respiração de Cheyne-Stokes (respiração periódica) é um tipo de apneia central. Quando ocorre a respiração de Cheyne-Stokes, a respiração torna-se gradualmente mais rápida, desacelera gradualmente, para por um curto período e, em seguida, começa de novo. Então, o ciclo se repete. Cada ciclo dura de trinta segundos a dois minutos.
Síndrome de hipoventilação da obesidade
Pessoas extremamente obesas podem ter síndrome de hipoventilação da obesidade (denominada síndrome de Pickwick), sozinha ou em combinação com apneia obstrutiva do sono. O excesso de gordura corporal interfere na movimentação do tórax e o excesso de gordura corporal abaixo do diafragma comprime os pulmões; esses fatores combinados podem causar respiração superficial, menos eficaz. A gordura corporal em excesso em volta da garganta comprime as vias aéreas superiores, reduzindo o fluxo de ar. O controle da respiração pode estar desordenado, causando a apneia central do sono.

Diagnóstico da apneia do sono
  • Uma avaliação médica dos sintomas da pessoa
  • Polissonografia
A suspeita de apneia do sono se dá com base nos sintomas da pessoa. Às vezes, os médicos usam questionários para ajudar a detectar sintomas, como sonolência excessiva durante o dia, que pode ser devido à apneia obstrutiva do sono. O diagnóstico geralmente é confirmado e a gravidade melhor determinada em um laboratório do sono por meio de um teste chamado de polissonografia. Essa avaliação pode ajudar os médicos a distinguir entre a apneia obstrutiva do sono e a apneia central.




Na polissonografia:
  • Um eletroencefalograma (EEG) é usado para monitorar as alterações nos níveis de sono e movimentos dos olhos.
  • Oximetria, na qual um eletrodo é colocado na ponta de um dedo ou no lobo da orelha, é usada para medir o nível de oxigênio no sangue.
  • O fluxo de ar é medido usando-se dispositivos colocados na frente das narinas e da boca.
  • O movimento e padrão respiratórios são medidos com um monitor colocado sobre o peito.
Monitores portáteis residenciais estão sendo usados com mais frequência para ajudar a diagnosticar a apneia do sono. Esses monitores medem a frequência cardíaca, o nível de oxigênio no sangue, o esforço respiratório, a posição e o fluxo de ar pelo nariz.
Algumas vezes, testes adicionais são necessários para ajudar os médicos a determinar a causa. As pessoas com apneia do sono podem ser testadas para identificar a presença de complicações, como hipertensão arterial e fibrilação atrial. Se os médicos suspeitam de apneia central do sono, raramente são necessários testes para determinar a causa.

Tratamento da apneia do sono
  • Controle dos fatores de risco
  • Pressão positiva contínua nas vias respiratórias ou protetores de boca ou outros dispositivos ajustados por um dentista
  • Possivelmente, cirurgia das vias aéreas ou estimulação elétrica das vias aéreas superiores
As pessoas devem ser advertidas dos riscos de dirigir, operar máquinas pesadas ou se envolverem em outras atividades durante as quais adormecer seria perigoso. As pessoas que são submetidas a cirurgia devem informar seu anestesista de que têm apneia do sono, porque a anestesia às vezes pode causar estreitamento adicional das vias aéreas.
Os grupos de apoio podem fornecer informações e ajudar as pessoas com apneia do sono e seus familiares a lidar com a doença.

Apneia obstrutiva do sono
Com tratamento, o prognóstico é geralmente excelente. O tempo de vida não é afetado e as complicações mais graves podem ser evitadas. Perder peso, parar de fumar e não usar álcool em excesso pode ajudar. Infecções e alergias nasais devem ser tratadas. Hipotireoidismo e acromegalia devem ser tratados. A cirurgia para perda de peso (bariátrica) frequentemente reduz a apneia do sono e reverte os sintomas em pessoas que estão muito acima do peso (obesidade mórbida), mas até mesmo as pessoas que perdem muito peso como resultado da cirurgia podem não apresentar uma diminuição significativa nos sintomas associados à apneia do sono.
Pessoas que roncam intensamente e pessoas que engasgam muitas vezes durante o sono não devem consumir álcool ou tomar soníferos, anti-histamínicos, sedativos ou outros medicamentos que causam sonolência. Dormir de lado ou elevar a cabeceira da cama pode ajudar a reduzir o ronco. Dispositivos especiais amarrados nas costas podem impedir que as pessoas durmam de costas. Os vários outros dispositivos e sprays comercializados para reduzir o ronco podem ajudar a tratar ronco simples, mas não demonstraram aliviar a apneia obstrutiva do sono. Existem vários procedimentos cirúrgicos comercializados para o ronco também, mas há pouca evidência do quão bem eles funcionam e por quanto tempo são eficazes.
As pessoas com apneia obstrutiva do sono, particularmente aquelas que têm sonolência diurna excessiva, se beneficiam mais previsivelmente do uso de pressão positiva contínua nas vias aéreas (continuous positive airway pressure, CPAP). Com a CPAP, as pessoas respiram através de uma máscara facial ou nasal conectada a um dispositivo que fornece uma pressão levemente maior nas vias aéreas. Esse aumento da pressão favorece a abertura da garganta conforme a pessoa respira. A CPAP pode ser administrada com ou sem umidificação do ar fornecida. Um acompanhamento cuidadoso por um profissional de saúde é necessário durante as primeiras duas semanas de uso para assegurar um ajuste adequado da máscara e incentivar a pessoa de forma adequada enquanto ela aprende a dormir com a máscara.
 
Aparelhos orais removíveis, desenvolvidos por dentistas, podem ajudar a aliviar a apneia obstrutiva do sono (e o ronco) em pessoas com apneia do sono leve a moderada. Esses aparelhos, que são usados somente durante o sono, ajudam a manter as vias aéreas abertas. A maioria dos aparelhos separa as mandíbulas e empurra a mandíbula inferior para frente, de modo que a língua não possa se mover para trás para bloquear a garganta. Outros mantêm a língua para a frente.
A estimulação das vias aéreas superiores é um procedimento no qual um dispositivo elétrico implantado é usado para ativar um dos dois nervos do 12º par craniano (nervo hipoglosso). Esta terapia pode ter sucesso em pessoas com apneia obstrutiva do sono moderada a grave que sejam incapazes de tolerar a terapia por CPAP.
Cirurgia de cabeça ou pescoço como tratamento para a apneia do sono é útil se houver aumento das amígdalas ou uma obstrução óbvia das vias aéreas superiores por outra estrutura. Em crianças, o tratamento mais comum é a cirurgia para remover as amígdalas e adenoides aumentadas. Esse tipo de cirurgia geralmente alivia a apneia do sono, particularmente se as amígdalas ou adenoides estiverem aumentadas. Cirurgia às vezes é usada em pessoas sem bloqueio óbvio se nenhum outro tratamento tiver funcionado. Outro procedimento comum é a uvulopalatofaringoplastia, em que o tecido em torno das vias aéreas superiores (por exemplo, as amígdalas e adenoides) é removido. É mais frequentemente útil para pessoas que têm apneia do sono leve. Outros procedimentos cirúrgicos são utilizados algumas vezes, mas eles não foram estudados detalhadamente.
O distúrbio subjacente é tratado, se possível. Por exemplo, podem ser administrados medicamentos para reduzir a gravidade da insuficiência cardíaca. Além disse, há poucos estudos clínicos bem conduzidos. Oxigênio fornecido por cateter nasal (não sob pressão) pode reduzir os episódios de apneia em pessoas cujos níveis de oxigênio no sangue se tornam baixos durante o sono. Algumas pessoas com apneia central do sono podem se beneficiar com a CPAP. Pessoas com apneia central do tipo Cheyne-Stokes têm menos episódios de apneia e insuficiência cardíaca, bem como uma gravidade menor com este tratamento, mas não sobrevivem por mais tempo. A acetazolamida pode ajudar as pessoas que têm apneia central do sono causada pela altitude elevada e, possivelmente, até mesmo as pessoas no nível do mar. Algumas pessoas se beneficiam da cirurgia para implantar um dispositivo que estimula o diafragma (um estimulador de nervo diafragmático/frênico) para ajudar a pessoa a respirar.

Por Kingman P. Strohl, MD, Case School of Medicine, Case Western Reserve University

Adaptado de msdmanuals.com.



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